terça-feira, 30 de agosto de 2011

Quando o sonho se transforma lenta e dolorosamente em pesadelo

Escusado será dizer que a passagem de ano 2009/2010 foi das noites mais maravilhosas que já passámos juntos. Às doze badaladas desjámos que a cegonha nos visitasse em 2010. Não tinha dúvidas, tinha feito bem as contas, em Setembro/Outubro seríamos pais! Estava tão, mas tão longe de saber que a cegonha tardaria a chegar!
Em Janeiro, o nada esperado período bateu à porta. Não fiquei contente, mas nada de dramas, era a primeira tentativa, no mês seguinte faria melhor as contas e tudo correria bem... mas não correu.
Em Março a angústia começava a querer tomar conta de mim e não tardou a que uma boa novidade causasse em mim tristeza: a minha prima, que eu tenho como uma irmã, disse-me que estava grávida, engravidou em Janeiro porque se esqueceu de tomar a pílula 2 ou 3 dias!
Eu e o C. estávamos na 3ª tentativa e quando a mestruação chegou mais uma vez, não consegui conter as lágrimas, não consegui apaziguar a revolta que sentia: queria tanto ter um filho e ... nada. Só me vinham ao pensamento as mulheres que engravidavam "sem querer", pior "as que abortavam", as que os abandonavam como se fosse lixo. Porquê? Porquê, meu Deus? Porque permites isto?
Experimentei sentimentos que não sabia existirem dentro de mim: revolta, raiva, inveja?! Eu nunca tinha sentido inveja e, na verdadeira acepção da palavra, não era isso que sentia... o que eu sentia era um enorme vazio dentro de mim... queria tanto ver a minha barriga crescer... mas a única barriga que tinha era de uns quilos a mais...
Maio e Junho foram meses complicados, para os dois, quando mestruava... mais uma esperança perdida e... chorava.
Nunca disse ao C. qual a altura do meu período fértil, pois o psicológico dele funciona mal com isso, havia alturas em que, apesar de ter erecção, não havia ejaculação...tal era a pressão! E eu, dei por mim a ter relações sexuais "sem amor". Algum tempo depois descobri no livro "Planear a gravidez - 10 Passos para obter a máxima fertilidade" que estava a passar a fase em que o sexo se tinha "transformado em sexo para ter bebé em vez de sexo divertido".
Em Julho voltei a encontrar a minha prima, já com uma linda barrigona! Estáva grávida de uma menina. Eu queria tanto ter uma barriga assim...nós queríamos tanto ter uma menina...(o C. delira com as pequenitas!).
E chegou Agosto, e parecia que toda a gente na família engravidava...menos eu! A minha cunhada anunciava que estava  grávida (casada há meia dúzia de vezes e já tinha engravidado!)
Não foi uma fase melhor que as anteriores, porque dei comigo a sentir ciúmes, porque via a minha mãe mimá-la, a rejubilar por ir ter um neto... Era eu, eu que devia estar grávida, ela era minha mãe, era a mim que devia mimar... eu era a filha mais velha, era eu que queria ter-lhe dado a alegria de um primeiro neto...enfim... dentro de mim habitava um turbilhão de emoções, às vezes sentia que a qualquer altura ia enlouqecer... eu não deixava transparecer a minha dor, eu chorava baixinho, lágrimas silenciosas, às escondidas...
O tempo ia passando e em cada mês que passava eu procurava em mim sinais de gravidez, às vezes sentia (psicologicamente), mas a vinda das mestruações mês após mês forçavam-me a crer noutra realidade!
Outubro e Novembro foram dois meses particularmente difíceis: no início de Outubro nasceu a filha da minha prima, altura em que também eu seria mãe, se tivesse engravidado à primeira tentativa.
Soube numa segunda-feira que a menina tinha nascido! Quase que enlouqueci nessa semana... só chorava, era o facto de estarmos naquela altura do ano, o facto de ser uma menina...sei lá! Eu só arranjei forças para ligar-lhe a dar os parabéns alguns dias depois, eu tinha tanto medo daquele telefonema, como iria eu reagir? No dia em que lhe liguei ia de viagem com o C., do telefonema recordo-me apenas de uma expressão que ela disse "a minha princesa". Ouvir isto foi muito duro, eu teria usado a mesma expressão ao referir-me a uma filha minha! Apressei-me a desligar a chamada, já se formava um nó na minha garganta, olhei para fora, pelo vidro do carro e as lágrimas contidas com muito esforço...rolaram.

Um comentário:

Unknown disse...

Como eu a entendo! Passei por estas situações durante anos! Um grande beijinho e muita força
Filomena